Foco, Força e Fé - Uma história de perseverança e amizade

Marcio Okabe Palestrante
5 min readAug 31, 2023

Hoje tive um sonho e acordei 4h20 com as palavras Foco, Força e Fé, e não consegui dormir mais porque me veio a inspiração para contar uma história.

Meus avós vieram do Japão na época da imigração japonesa no início do século 20 e atravessaram o oceano Pacífico para trabalhar no Brasil. Eles são “isseis” que são a primeira geração de japoneses que chegou no Brasil. Meus pais nasceram em São Paulo (são nisseis que é a segunda geração) e se mudaram para Salvador em 1967 quando meu pai veio trabalhar na Petrobrás onde se aposentou após 51 anos de trabalho. Nasci em Salvador em 1968, portanto sou um “japonês baiano” e um sansei (terceira geração).

Tive uma vida tranquila quando criança, mas vivemos uma aventura quando fomos morar no Iraque quando eu tinha 9 anos, pois meu pai foi explorar petróleo no Iraque. Essa é uma longa história que preciso escrever depois e para encurtá-la nos voltamos quando começou a guerra Irã-Iraque, mas tivemos a oportunidade de viajar a até o Japão e outros países da Ásia.

Voltamos a morar na Bahia e continuei meus estudos até que terminei o ginásio - que hoje é o ensino médio - e fiz o teste para a ETFBa (Escola Técnica Federal da Bahia) e escolhi o curso de Eletrônica porque meu irmão havia escolhido este curso e fui no embalo.

Na época, eu tinha 15 anos e a ETFBa ficava bem longe de Brotas que era onde eu morava. Lembro que tinha que acordar 5h30 para conseguir tomar café e pegar o ônibus para o Barbalho e chegar 7h.

Foi uma das épocas mais transformadoras da minha vida, pois saí do universo das escolas particulares e ingressei em um ambiente com muito mais diversidade de pessoas de todas as raças e condições sociais. Como na Bahia até hoje não é fácil ver descendentes de japoneses, eu fiz muitas amizades.

Uma das mais especiais é com a Elisabete Souza Santos que fazia o curso técnico de química. Não me recordo exatamente como nos conhecemos, mas lembro que eu não ouvia MPB até que ela falou do Toquinho e comecei a ouvir “Aquarela” e virei fã. (Curiosamente, em 1999 quando tive uma produtora de sites acabamos criando o site do Toquinho)

Eu sempre ia na sua casa onde tínhamos boas tardes de conversa e sua mãe sempre achava que não era somente amizade. Em 1987, no ano que ia me formar comecei a namorar uma menina que também fazia eletrônica e em um determinado momento ficou com ciúmes e disse para terminar com a amizade com a Bete. Quando a gente é jovem e apaixonado fazemos muitas coisas que não queremos e acabei terminando a amizade com a Bete, mas no final o que terminou mesmo foi o namoro.

Meus pais falavam para eu fazer faculdade em São Paulo, mas como eu estava namorando já tinha decidido prestar vestibular na UFBA (Universidade Federal da Bahia). Com o fim do namoro, eu estava na “fossa” e um dia TOMEI UMA DECISÃO e falei para meus pais “Vou prestar vestibular da Unicamp!”.

Como faltavam poucos meses para o vestibular da Unicamp, eu tive que estudar MUITO… e estudei de domingo a domingo de 7h às 22h sem sequer ir à praia nenhum dia. Em 1987, a Unicamp inovou com o novo vestibular que na primeira fase que era a redação e a nota que tirei foi 5,06!!! (Outra curiosidade: No vídeo A Escola Ideal — Rubem Alves fala que ele criou o novo vestibular da Unicamp).

Por uma diferença de 7 CENTÉSIMOS minha vida teria seguido outra linha do tempo e não estaria escrevendo este post. Passei na Unicamp e também é uma fase que vale um livro, mas quero voltar ao tema da AMIZADE.

Nas férias, eu viajava para Salvador de ÔNIBUS e eram 34 horas de viagem. A amizade voltou, mas a Bete mudou para Governador Valadares/MG e a gente pouco se encontrava. Lembro que não existia whatsapp e ligações DDD “discagem direta à distância” eram caras.

Em uma das férias, parei em Governador Valadares bem na época do campeonato mundial de asa delta que acontece no Pico do Ibituruna e lembro que pegamos carona (não tinha Uber) para chegar ao topo.

Depois de formados, acabamos nos distanciando e cada um com seus desafios da vida, família e filhos ficamos muitos anos sem acompanhar um ao outro.

Em 2013, a empresa do seu irmão SGLOC de softwares de locação de automóveis ia fazer um encontro com clientes e precisava de um palestrante. Eu estava no início da minha carreira de palestrante e ministrei uma das minhas primeiras palestras remuneradas.

Durante a pandemia, ela superou um grande desafio que foi cuidar da mãe que tem Alzheimer e o quadro estava muito grave. A cura veio através do uso da Cannabis que ainda sofre preconceitos pela associação com a maconha, mas que é uma medicina da floresta e um conhecimento secular indígena e de outros povos.

Ontem tive o prazer de ter uma boa conversa com minha amiga Bete e feliz em saber que sua mãe está muito bem. Dei origamis especiais de presente e fiquei surpreso ao descobrir que ela tem participado de um grupo de BIKE que pedala semanalmente fazendo diversos roteiros noturnos em Salvador. Achei até um site da Prefeitura dos Grupos de Bike de Salvador.

Não apenas anda de bike, mas faz academia 6 vezes por semana de forma disciplinada. Fiquei com saudades da época que morava em Salvador e ia jogar futebol final de semana e andava de bicicleta mais de 10 km.

Estou com 55 anos e há momentos que para tomar uma decisão precisamos de um “empurrãozinho”. Fiquei com vontade de voltar a andar de bicicleta e vou procurar grupos de bike em Sampa.

Já dizia o poeta Vinícius de Moraes

É melhor ser alegre que ser triste
Alegria é a melhor coisa que existe
É assim como a luz no coração
A vida é arte do encontro embora haja tanto desencontro pela vida…

Quantos amigos e amigas temos deixado de nos REENCONTRAR? Em tempos de whatsapp e Instagram, às vezes é bom deixar de lado a tecnologia e fazer reencontros de alma.

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